O Conselho Nacional de Saúde (CNS) e o Centro de Assessoramento em Educação Popular (Ceap) receberam mais de 10 mil inscrições para segunda edição do Projeto de Formação para o Controle Social no SUS, realizado em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).
Oficinas de formação, cursos, pesquisas, seminários e processos de multiplicação, que compõem esta edição, alcançaram conselheiros de Saúde e lideranças de movimentos sociais de todos os estados brasileiros. O objetivo foi qualificar e fortalecer a atuação destes atores sociais na defesa de políticas públicas e do Sistema Único de Saúde (SUS), discutindo alternativas para o fortalecimento do SUS, especialmente com temas relacionados à pandemia da Covid-19.
O projeto ocorreu por meio da Comissão Intersetorial de Educação Permanente para o Controle Social do SUS (CIEPCSS) do CNS e estava inicialmente previsto para ser na modalidade presencial, porém ele foi readaptado para atender as condições impostas pela crise sanitária e o isolamento social e passou a ser realizado em formato integralmente online.
Com isso, foi necessária a criação de novas metodologias participativas, onde a fala, a escuta, as reflexões e os aprendizados se tornaram fruto de uma construção coletiva, de modo que cada participante se sentiu protagonista do processo formativo.
“Foi um enorme desafio, porque fazer formação a partir dos princípios da educação popular, no modelo remoto, não é tarefa simples e não tínhamos ‘receita pronta’. Mas valeu a pena, foi uma aposta construída de forma solidária e coletiva que certamente contribuirá para o fortalecimento dos espaços de controle social, da luta em defesa da democracia, da Saúde como direito humano e do SUS como um projeto de nação”, afirma a conselheira nacional de saúde e coordenadora da CIEPCSS, Sueli Barrios.
“Uma metodologia pensada na pedagogia freiriana de educação popular em saúde, que em tempo recorde foi readequado para ambiente virtual, sem prejuízo da participação tanto de conselheiros e conselheiras, bem como das entidades e movimentos sociais do controle social. Eu considero superpositivo”, afirma a coordenadora adjunta da CIEPCSS, Conceição Silva.
Multiplicação de saberes
Entre os objetivos traçados e alcançados está a implementação de atividades de multiplicação junto aos conselhos de Saúde e movimentos sociais, com a transferência de conhecimento obtido nas oficinas. A multiplicação de processos formativos esteve no centro das preocupações do projeto, sendo tratado de forma transversal em diversos momentos. A partir das oficinas, foram construídos 555 planos de multiplicação, sendo que 130 já foram colocados em prática.
“Formamos um coletivo de multiplicadores pelo país afora, que construirão redes de educação permanente mobilizando e dialogando com a população na perspectiva de fortalecimento da atuação do controle social, em defesa do SUS em todos os territórios”, completa Sueli.
Oficinas
O projeto de formação se iniciou em fevereiro de 2020 e antes do surgimento do novo coronavírus no Brasil, em março, já tinham sido realizadas 7 oficinas. Ao todo, foram oferecidas 87 que atenderam conselheiros de Saúde e lideranças sociais que atuam na luta pelo direito humano à saúde de todo o país. As discussões nas oficinas ocorreram em torno do Conceito de Saúde e Concepção de Sociedade, Modelo de Atenção e Organização das Ações e Serviços no SUS e Orçamento e Financiamento do SUS.
Elas receberam 6.386 inscritos e foram oferecidas virtualmente para 2.536 pessoas. A seleção dos participantes foi feita pelas Comissões de Educação Permanente dos Conselhos Estaduais de Saúde (CES). Entre os critérios de seleção incluiu-se a proximidade geográfica das oficinas, dividindo as vagas entre usuários, trabalhadores, prestadores e gestores do SUS.
Seminários estaduais
Além das oficinas, o projeto também incluiu a realização de 27 seminários para todos os estados e Distrito Federal, que mobilizaram os participantes das oficinas, conselheiros de saúde representantes de movimentos sociais em defesa do SUS. Eles reuniram 3.591 participantes, foram transmitidos ao vivo nas redes sociais do CNS e Ceap e já conta com quase 10 mil visualizações das edições gravadas.
Cursos de Ferramentas Virtuais Participativas
Para capacitar conselheiros e ativistas de organizações e movimentos sociais no domínio de ferramentas virtuais, facilitando a multiplicação de conhecimento e experiências em seus territórios e comunidades, esta edição do projeto também contou com a promoção do curso de Ferramentas Virtuais e Participativas, oferecido nas plataformas Zoom e Padlet. Estes cursos receberam 479 inscrições e alcançaram 351 pessoas, realizado em 15 turmas diferentes.
Pesquisa
Desde o início, o projeto previa a realização de uma pesquisa junto aos conselhos estaduais que deveria resultar em informações para compor o livro sobre Controle Social e Educação Permanente. Com a chegada da pandemia, essa pesquisa ganhou outro formato e passou a contemplar o contexto pandêmico e o impacto da Covid-19 nos Conselhos Estaduais de Saúde (CES) e nas comissões de educação permanente.
“Queríamos perceber o que a pandemia significou nestes espaços, como eles se movimentaram, qual a dinâmica neste período, se fizeram educação permanente ou não”, afirma o coordenador executivo do Ceap, Valdevir Both.
A pesquisa teve a participação de vários movimentos sociais e pesquisadores sobre o tema no Brasil e no exterior e resultará em cinco produtos decorrentes deste processo, entre eles um livro impresso e eletrônico sobre o impacto da Covid-19 no Controle Social, que será publicado em breve.
A avaliação do projeto também tem sido construída de forma coletiva, em reuniões com a mesa diretora do CNS, movimentos sociais, conselhos estaduais, comissões de educação permanente, educadores das oficinas, integrantes dos grupos de pesquisa, grupos de sistematização e conselho diretor do Ceap.
“Um outro ponto muito importante é que com a coleta de dados dos participantes estamos construindo um rico material com indicadores que possibilita ter um perfil da participação e com isto elaborar novos processos formativos”, afirma Conceição Silva.
“Não há dúvidas que o projeto superou as nossas expectativas. Se olharmos a versão original, veremos que, no percurso da pandemia, o projeto conseguiu se refazer, se readequar e, sem que mudássemos nossos objetivos, não paramos e, pelo contrário, potencializamos nossas ações. Conseguimos nos rearticular em uma nova modalidade com muita gente país afora”, avalia Valdevir.
Assista os seminários estaduais do Projeto de Formação para o Controle Social no SUS – 2ª edição
Ascom CNS
Foto: Oficina realizada em Santa Maria (RS), antes da pandemia.