Uma imagem social aprofundada sobre o maior sistema de participação social do planeta. Com um time de mais de 150 pesquisadores do Brasil e do exterior, a pesquisa “Saúde e democracia: estudos integrados sobre a participação social nas conferências nacionais de saúde” dá prosseguimento ao esforço do Conselho Nacional de Saúde (CNS) de fazer das etapas nacionais um momento de produção do conhecimento sobre o controle social.
Coordenador geral da pesquisa e integrante da comissão de relatoria pela Rede Unida, Alcindo Ferla relata as inovações desta edição, após a pioneira pesquisa realizada na etapa nacional na 16ª Conferência, realizada em 2019.
“Nossa pesquisa tem a capacidade de observar e analisar o processo da saúde que trazemos para dentro do SUS pelo debate do controle social. Não é uma pesquisa acadêmica sobre, mas sim com o controle social, contando desde o desenho metodológico com acadêmicos e conselheiros nacionais dos segmentos de trabalhadores da saúde e de usuários do SUS, cujos os títulos que os qualificam para compor a equipe é justamente a vivência que eles têm nos movimentos”.
Metodologia ampliada qualifica a formação de jovens pesquisadores
São quatro trilhas metodológicas desenvolvidas para a segunda edição. O questionário em papel da edição de 2019 foi transformado num instrumento eletrônico, aplicado online pelos 130 pesquisadores monitores selecionados em edital nacional. Há ainda entrevistas semiestruturadas feitas por amostragem com as delegações e uma voltada para os coordenadores das conferências livres, a grande inovação democrática desta 17ª Conferência Nacional de Saúde. A quarta trilha é a produção de narrativas dos próprios pesquisadores selecionados, reunindo assim um amplo leque de olhares sobre a etapa nacional. Foram ainda convidados dois observadores externos: uma da Itália e outro do Chile, para uma construção de leituras conjuntas estudos sobre o controle social brasileiro.
“Da primeira edição para esta aprendemos muito. Percebemos que, para qualificar o banco de dados, deveríamos lançar mão de outras estratégias. A opção pela plataforma online facilitou imensamente o manejo do instrumento de pesquisa e o contato com as pessoas”, explica Gabriel Calazans Baptista, psicólogo sanitarista e doutorando em psicologia social pela UFPA, integrante da coordenação da pesquisa.
Um treinamento online de um mês e reuniões presenciais ao longo dos 4 dias da etapa nacional foi realizado para treinar o time de jovens pesquisadores monitores, numa maneira de qualificar e dialogar de maneira mais próxima com os jovens pesquisadores que vieram para a etapa nacional de diversas instituições e partes do país.
Camila Marçal foi uma das pesquisadoras selecionadas. A estudante de graduação em enfermagem da UnB e presidente do Centro de Memória do curso disse que a experiência da 17ª CNS transformou seu olhar sobre o processo de pesquisa
“Quando a gente vem para um evento com essa magnitude, com 6 mil pessoas, a gente encontra diferentes histórias e percepções. Muitas pessoas começam falando sobre seus estranhamentos com Brasília, do que acharam da comida. Então, o assunto vai mudando, começam a falar do que trouxeram de bagagem, o que estão sentindo sobre o evento, quais são suas militâncias, num diálogo muito fluído. Não estava acostumada com esse retorno, mesmo trabalhando com este tema. É um processo de aprendizagem no sentido de despertar uma sensibilidade importante, pois ter esse contato intenso ajuda a pensar como desenvolver melhor meus temas de pesquisa para a Universidade, para que eles sejam mais eficazes e alcancem os objetivos de serem propositivos”.
Kenderloude Simeon foi uma das entrevistadas em profundidade pela pesquisa. Ela é haitiana e estuda enfermagem na UnB. “Acho ótimo participar da pesquisa. Mesmo não vindo como delegada, tenho muitas coisas a falar. Acabei falando coisas que nem havia percebido antes, o que confirma ser bom participar”, disse ela, particularmente mobilizada pelo tema da saúde e migrações.
Primeiras impressões apontam para renovação e motivação com a etapa nacional
Para Alcindo Ferla, a pesquisa cumpre esse duplo papel, tanto formativo quanto exploratório, o que potencializa a experiência do controle social.
“O controle social não é só um voo superficial, mas um espaço aprofundado das políticas de saúde e das boas práticas das profissões em saúde. Um profissional de saúde que se forma sem essa vivência do controle social é um profissional mal formado. Por isso, acreditamos tanto nesse formato e estratégia”.
Mesmo sem adiantar resultados, Gabriel Baptista ressalta o sentimento positivo dos delegados percebido pela pesquisa. “É sentimento de esperança e mobilização o que a pesquisa demonstra, num cenário de muitos conselheiros municipais e estaduais estreando na etapa nacional. É a demonstração da renovação do controle social e de potencialização desse instrumento democrático como produção de ciência e de cidadania”.
Por Bruno C. Dias / Rede colaborativa de comunicação da 17ª CNS