O projeto “Práticas de Cuidado em Saúde com Trabalhadoras do Sexo” é uma extensão universitária desenvolvida pelo Núcleo de Estudos sobre Drogas da Universidade Federal do Ceará (Nuced-UFC). A iniciativa vem transformando a vida de trabalhadoras do sexo em Fortaleza. Por seu caráter educativo e de formação em saúde, o projeto será homenageado pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) durante a 2ª Conferência Nacional de Saúde das Mulheres, que acontece de 17 a 20 de agosto, em Brasília.
A Barra do Ceará é um bairro às margens do Rio Ceará, que desemboca na orla da capital. A região, com altos índices de violência, é também um território onde muitas profissionais do sexo atuam. Por esse motivo, o Nuced, desde 2015, passou a realizar um projeto que acolhe essa população, empoderando as mulheres sobre seus direitos no acesso à saúde.
É o que explica a pesquisadora Lorena Brito, membro da equipe do projeto. “Nós queremos facilitar o acesso delas às políticas públicas de saúde. Não condenamos suas atividades, nós acolhemos, tentamos reduzir danos, fazemos formações sobre sexualidade e saúde da mulher”. Os alunos e alunas do curso de Psicologia da UFC também realizam atendimento psicossocial no local.
A profissional do sexo Raquel, que prefere apenas o uso do primeiro nome, é uma das atendidas. Ela conta que, em muitos postos de saúde e hospitais públicos, as trabalhadoras do sexo são atendidas com discriminação por ponta de suas atividades. “Já tive uma amiga que faleceu porque foi atendida com preconceito numa madrugada em um hospital de Fortaleza”. Ela enfatiza a necessidade da iniciativa do Nuced. “Muitas de nós não recebemos informações sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), sobre métodos de prevenção. Tem garotas que acham impossível contrair uma DST pela boca, por exemplo”.
Saúde, Cultura e Cidadania
De acordo com Lorena, cerca de 80 trabalhadoras são atendidas, mas o número de pessoas que participam é muito maior. “Nós também realizamos formações com os donos dos bares da região, com os clientes. Explicamos como agir diante de situações de violência”. No projeto, também há atividades artísticas vinculadas como intervenções urbanas, danças, oficina de maquiagem, cuidados com alimentação, dentre outras.
A conselheira nacional de saúde, Heliane Hemetério, fez a visita técnica ao local. Para ela, o lugar de liberdade dessas mulheres é respeitado. “É um projeto válido porque não é higienizado. A iniciativa não condena as mulheres, eles acolhem com afeto essa população e criam vínculos”. O resultado é um espaço mais saudável para elas.
Ascom CNS