O mundo do trabalho pode ter graves consequências na vida e na saúde das mulheres. Isso porque, muitas vezes, elas são submetidas a grandes jornadas de trabalho acrescidas do trabalho doméstico e cuidado com os filhos. Para discutir o impacto dessa realidade e propor desafios que atenuem essas consequências, as delegadas se reuniram no Eixo 2 da 2ª Conferência Nacional de Saúde das Mulheres (2ª CNSMu), que acontece hoje (18/08), em Brasília.
A conselheira nacional de saúde, Maria Conceição Silva, explica que, culturalmente, o papel da mulher no mundo do trabalho é considerado inferior ao papel dos homens. “O capitalismo é machista e racista, dividindo o trabalho por sexo. Pensar, dirigir, comandar, ser intelectual, político, são tarefas atribuídas aos homens. As funções do ‘cuidar’ são das mulheres. Chegam a usar a biologia pra legitimar esse pensamento equivocado”, disse, reiterando que as mulheres negras sofrem ainda mais nesse universo.
A conselheira cita ainda os constantes assédios, desconfortos, sexualização e constrangimentos a que as mulheres são submetidas no universo do trabalho. Ivete Santos Barreto, membro do Conselho Regional de Enfermagem de Goiás, afirma, a partir de dados do conselho regional, que as mulheres têm cinco horas a mais de trabalho por semana. “Isso gera alterações biológicas, afeta nossas vidas e saúde. Dores nas costas, varizes, cólicas. Isso não é coisa de mulher. São condições que nós somos submetidas para executar e desenvolver as nossas tarefas”, destaca.
Ivete apresentou uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Conselho Federal de Enfermagem com as profissionais de enfermagem. Segundo ela, “mais de 24% das mulheres trabalham de 41 a 60 horas semanais. Isso, somado à jornada em casa, aumenta ainda mais. Estamos muito prejudicadas”, disse. Ela disse ainda que boa parte das enfermeiras não pode ser atendidas no próprio local de trabalho, caso adoeçam.
Trabalho e Mulheres Rurais
A conselheira do CNS, Eleonice Conceição Sacramento, que representa o Movimento Nacional de Pescadoras e Marisqueiras evidencia as problemáticas de políticas públicas desenvolvidas sem discussão. “Muitas políticas são pensadas no gabinete, sem levar em consideração às consultas aos Povos e Comunidades Tradicionais. Nós trabalhamos muito e adoecemos por isso, mas precisamos ser consultadas para as melhorias da nossa saúde”, diz.
A secretária nacional de saúde da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e conselheira do CNS, Elgiane Lago, afirma que, como mulher rural, a jornada de trabalho é enorme. Nós temos que levar nossos filhos na roça. Temos que cuidar deles e trabalhar. “Espaços de debate como esse são importantes para mudarmos a realidade. Estamos colocando os assuntos na mesa, discutindo, para em seguida propormos políticas públicas específicas ao Estado”, finaliza.
A 2ª CNSMu acontece até domingo (20/08), quando serão definidas as diretrizes para a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. O documento vai nortear as ações de municípios, estados e união no desenvolvimento de políticas específicas para as mulheres.
Ascom CNS