Entre os dias 22 e 24 de novembro de 2018, representantes do povo Yanomami e Ye’kuana estiveram reunidos em Roraima durante a Conferência Distrital de Saúde Indígena. O objetivo foi colher propostas para a reformulação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde dos Povos Indígenas (Pnaspi). O evento, realizado pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e Conselho Nacional de Saúde (CNS), elegeu 56 delegados e delegadas para participarem da 6ª Conferência Nacional de Saúde indígena (6ª CNSI), em Brasília, que será realizada de 27 a 31 de maio.
Beto Góis – presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana
“A população Yanomami em Roraima e no Amazonas já passa de 25 mil pessoas. Somos cinco grupos diferentes. Nessa conferência trazemos nossas propostas de políticas públicas. Atualmente nossa bandeira é fortalecer o nosso direito ao Sistema Único de Saúde (SUS). Nosso gargalo hoje é a falta de atendimento de média e alta complexidade. Temos que melhorar o processo que faz o parente Yanomami sair do território para ser atendido na cidade. Tem muita dificuldade nesse processo. Por conta da espera, demora muito o atendimento. Precisamos de uma atenção realmente diferenciada. Em relação à saída dos médicos cubanos do Programa Mais Médicos, só temos a lamentar. A presença deles em nossos territórios foi de extrema importância”.
Sarlene Macuxi – conselheira nacional de saúde
“Nosso principal problema é a entrada de invasores nos nossos territórios para tirar o ouro das florestas. Nosso direito ao território está ameaçado. Nós somos diversas etnias, cada uma com sua forma de viver. Por isso estamos aqui discutindo sete eixos para atenderem nossas demandas. Muitas questões mudaram durante os 16 anos da atual Pnaspi, principalmente em relação à gestão, então precisamos discuti-la. Saúde tem a ver com território. A terra, pra nós, é nossa mãe”.
Fernando Silveira – representante do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami
“As conferências servem de subsídio de planejamento para a área da saúde. É nesse espaço que os indígenas vão falar sobre os problemas específicos com as necessidades de suas populações. As conferências têm contribuído muito nesse processo. É um momento de escuta para entendermos o que eles precisam. Isso dá uma verdadeira noção do que são as comunidades indígenas. Não dá pra pensar políticas de saúde iguais para um país inteiro, precisamos discutir em cada distrito”.
Dora Lima – antropóloga do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami
“As populações indígenas possuem necessidades específicas a partir de seus modos de viver, de suas próprias formas de existência e visões de mundo. A relação saúde-doença, para eles, têm sentidos próprios dentro de um universo tão diferenciado que compõe as populações indígenas no Brasil, por isso é importante um evento de escuta às demandas dos indígenas”.
Haroldo Carvalho Pontes– conselheiro nacional de saúde
“Determinantes sociais apresentados aqui são completamente diferenciados dos determinantes sociais urbanos. Aqui é um momento de aprendizagem muito especial e rico. Para respeitar o outro, eu preciso entender como ele pensa e como ele se situa no mundo. A 16ª Conferência Nacional de Saúde vai levar 200 lideranças indígenas. É um número muito expressivo porque os indígenas têm muita dificuldade de participação no controle social. Na conferência eles vão ter participação ampliada”.
#PraCegoVer – Nas imagens acima, cada um dos entrevistados aparece em close no rosto. Ao fundo, árvores e um lago.
Fonte: Conselho Nacional de Saúde