A fala é de Rita Borret, médica representante do Coletivo Negrex, durante roda de conversa que debateu a defesa da vida e atenção integral à saúde das populações vulnerabilizadas no Brasil
Na tarde de quinta (29/04), ocorreu mais uma edição do ciclo de debates intitulado “Ocupação Preta: Rodas Virtuais sobre Equidade e Saúde”, que traz uma série de especialistas negros e indígenas para debaterem o Sistema Único de Saúde (SUS) e as populações subalternizadas. A defesa da vida, a atenção integral à saúde e as populações vulnerabilizadas foi o tema deste debate que teve transmissão ao vivo no Facebook e Youtube do CNS.
A pandemia do Novo Coronavírus já matou mais de 400 mil pessoas no Brasil e a população mais vulnerabilizada, que sempre teve acesso precário à saúde, à educação, ao saneamento básico e à moradia digna, figura entre a maior parcela dos infectados e mortos. O Brasil repete no cenário da pandemia o descaso que, segundo os debatedores, cava o fosso da desigualdade e da injustiça no país.
José Vanilson Torres, conselheiro nacional de saúde e coordenador do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), ressaltou que falar sobre a população de rua é falar sobre a classe trabalhadora. “Que tem seus direitos negados, retirados e muitas vezes não tem como se manter e vai para as ruas”. Nas ruas essas pessoas passam a ser vistas como “descartáveis urbanos”.
Rita Borret, médica de família e comunidade e integrante do coletivo Negrex, ressaltou que ter os direitos básicos de cidadania garantidos, como condição de moradia, saneamento básico, segurança alimentar, emprego e o direito de ir e vir, são condições mínimas necessárias para garantir a saúde da população. “Em nosso país, uma quantidade enorme de pessoas não têm esses direitos básicos garantidos”, destacou.
Jeane Tavares, docente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), falou sobre a saúde mental da população negra, que é grande parte da população que é vulnerabilizada e marginalizada. Quando pensamos em saúde mental falamos da negligência, porque até a política nacional de saúde integral da população negra fala pouco ou quase nada da saúde mental”, ressaltou.
Jeane também destacou que a destruição da saúde mental é o início do extermínio da população negra. Para ela, não há saúde mental sem justiça social e sem uma rede preparada para cuidar da população negra.
Rosangela Castro, diretora geral do grupo de Mulheres Felipa de Sousa, falou sobre a população lésbica. “A nossa invisibilidade adoece e mata, estamos desde o século passado falando: – nós existimos!, mas não queremos viver só no Dia da Visibilidade Lésbica, queremos nos manter vivas”.
O debate foi mediado pela integrante da Comissão Intersetorial de Políticas de Promoção da Equidade (Cippe) e representante do Conselho Federal de Psicologia, Célia Zenaide.
Assista à roda de conversa na íntegra
Ocupação preta
O objetivo das rodas de conversa Ocupação Preta do CNS é abordar, junto a diferentes especialistas e ativistas sociais, as principais pautas que ainda vulnerabilizam a saúde mental e física da população negra e indígena no Brasil.
A coordenadora da Cippe, Altamira Simões, falou sobre a construção do espaço Ocupação Preta no CNS, iniciado em 2020, mas que tem se colocado como um projeto perene e deve seguir ao longo de 2021. “Começamos no ano passado, no novembro negro, e definimos continuar com esse espaço, porque quem tem que falar da saúde da população negra, somos nós”.
Foto: Paula Fróes/Governo da Bahia
Ascom CNS