Profissionais de limpeza, de cozinha e da segurança, maqueiros, recepcionistas e motoristas até técnicos e auxiliares de enfermagem e de saúde bucal, entre outras somam cerca de 1,5 milhão de pessoas
Lançar luz sobre um universo pouco iluminado da área da Saúde e, assim, buscar apontar saídas voltadas ao cuidado, à proteção e ao acolhimento. Esse é o objetivo da pesquisa que teve início em janeiro de 2021, tomando como foco os “profissionais invisíveis da Saúde” para melhor conhecer suas condições de trabalho e de vida. Aí estão incluídos de profissionais de limpeza, de cozinha e da segurança, maqueiros, recepcionistas e motoristas até técnicos e auxiliares de enfermagem e de saúde bucal, entre outros, somando cerca de 1,5 milhão de pessoas.
“Eles são essenciais para o sistema de saúde, mas estão ali de forma invisível”, observa Maria Helena Machado, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), coordenadora da pesquisa, realizada em parceria com o Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE-Fiocruz), em entrevista para o blog do Centro. “Queremos iluminar o que hoje é obscuro, pouco sabido, pelos gestores e pelos próprios sindicatos”, diz Maria Helena.
A pesquisa, Os trabalhadores ‘invisíveis’ da saúde e a Covid-19, deriva de uma outra, em fase de tabulação de resultados, voltada aos profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas etc.) na pandemia, realizada em 2020, também fruto de parceria entre Ensp e CEE. Ambas realizadas por meio de questionário on-line. “Na primeira pesquisa, recebemos respostas de um número bastante elevado desses profissionais invisíveis, que inicialmente não estariam incluídos”, relata Maria Helena. “Não esperávamos esse retorno, e percebemos que era necessário sensibilizar a população e também as equipes de saúde sobre a importância daqueles que gravitam em torno delas, apoiando, limpando fazendo a comida, cuidando da recepção…”.
Essa percepção levou Maria Helena e sua equipe a voltar o foco especificamente para esses profissionais, como alvo de uma pesquisa acadêmica, algo inédito, como destaca. “Eu diria que essa é uma pesquisa pioneira. É a primeira vez de fato que, na academia, na Fiocruz, estamos voltados a conhecer a realidade desses trabalhadores, a dar voz a eles”, diz Maria Helena, registrando que a pandemia de Covid-19, de alguma forma, levou os pesquisadores a essa investigação, tornando mais evidente a relevância daqueles profissionais.
Não tenho dúvida de que esse conjunto de informações que vamos coletar vai trazer luz ao que hoje é obscuro e muito pouco sabido pelos gestores e pelos próprios sindicatos, tornando possível buscar saídas decentes, cuidadosas, protetoras a esses trabalhadores
A pesquisa realiza-se por meio de um questionário de 24 questões, disponível on-line (https://is.gd/PesquisaInvisiveis), que pode ser respondido pelo computador, tablet ou celular. Chegar aos profissionais, de especialidades tão distintas, é um desafio, como aponta Maria Helena. “Estamos falando e 1,5 milhão de trabalhadores, que estão no sistema de saúde de forma dispersa, boa parte, terceirizados, de empresas. Além disso, o questionário é simples, fácil de responder, mas exige acesso à internet, no celular, num computador”, analisa, explicando que a equipe da pesquisa buscou o apoio de entidades sindicais e associações profissionais em nível nacional e da confederação de trabalhadores, para chegar ao maior número possível de respondentes. “As entidades também têm necessidade de conhecer a realidade desses profissionais. Consideram a pesquisa importante e vão encampar. Não tenho dúvida também da importância da imprensa. Toda forma de fazer o questionário chegar aos trabalhadores vai ajudar. Esperamos o que chamo de laços de solidariedade”.
Ao buscar conhecer aspectos como condições de trabalho, disponibilidade de equipamentos de proteção individual, infraestrutura, iluminação e mobiliário adequados, formas de vínculo empregatício, processo de trabalho, sensação de proteção/desproteção, estresse psicológico, exposição a riscos, grau de ansiedade, comorbidades, além de associações com gênero, raça e faixa etária, entre outros, a pesquisa poderá ter grande relevância para a gestão do sistema de saúde e para o acolhimento desses profissionais, destaca Maria Helena. “Não tenho dúvida de que esse conjunto de informações que vamos coletar vai trazer luz ao que hoje é obscuro e muito pouco sabido pelos gestores e pelos próprios sindicatos, tornando possível buscar saídas decentes, cuidadosas, protetoras a esses trabalhadores”.
De acordo com a pesquisadora, a expectativa é de encontrarem “um cenário preocupante”, com condições de trabalho inadequadas, sofrimento, esgotamento, rotina pesada de trabalho e baixos salários. “Se na pesquisa nacional que fizemos com os trabalhadores de Saúde de nível superior, a gente já sabe os dados preocupam, numa situação de trabalhadores que já são invisíveis, com imagem pouco clara à sociedade, o cenário deverá ser ainda mais pesado”.
A pesquisa Os trabalhadores ‘invisíveis’ da saúde e a Covid-19 teve início em janeiro, quando o questionário começou a circular, e deverá aguardar respostas dos profissionais até março. A partir de abril, tem início a análise das respostas, à luz de estudos que o grupo de pesquisadores já vêm realizando sobre o tema, e, em maio, os resultados deverão ser divulgados. Maria Helena aproveita para convidar os profissionais a responderem o questionário. “Estamos dedicando a pesquisa ao maqueiro, ao motorista de ambulância, ao porteiro, recepcionista, agente comunitário de saúde, auxiliar de enfermagem e de saúde bucal, ao profissional da limpeza. Queremos que você apareça, queremos ouvi-lo”.
Link para acessar o questionário:
https://is.gd/PesquisaInvisiveis
Fonte: CEE Fiocruz
Foto: Agência Brasil