Parlamentares e representantes da sociedade civil defenderam o fim do isolamento de pessoas em tratamento. Reunidos em sessão solene, na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (17) para celebrar o Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18 de maio), eles pediram apoio e recursos para a Rede de Atenção Psicossocial (Raps) do Sistema Único de Saúde (SUS).
O Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18 de maio) é comemorado há 35 anos. O marco inicial, em 1987, foi o chamado manifesto de Bauru, que apontava as falhas do sistema de institucionalização dos pacientes e propunha uma nova abordagem no tratamento das doenças mentais.
A conselheira nacional de saúde e secretária geral da Federação Nacional dos Psicólogos, Fernanda Magano, criticou o modelo das comunidades terapêuticas. “Esses novos manicômios são escoadouros de dinheiro público para algo que não é público, não é laico e que tem feito absurdos, violências, mortes, torturas. Então, a posição das entidades que participam do fórum nacional de psicologia é: ‘não à institucionalização da loucura, pelo cuidado em liberdade, pela diversidade, pela possibilidade da convivência e da saúde mental na sociedade’”, ressaltou.
Durante a sessão, foram feitas várias críticas à atuação do governo federal na promoção da saúde mental. A representante do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, Carolina Lemos, salientou que o isolamento é preconceituoso e faz um recorte de classe, raça e gênero, com a maioria das internações sendo de pessoas pobres, negras e mulheres.
“Sabemos que, nos últimos anos, a reforma psiquiátrica brasileira tem sofrido com diversos ataques e retrocessos e com o corte de recursos da rede de atenção psicossocial”, disse. Ela criticou também a criação de instrumentos legais de expansão de hospitais psiquiátricos e as comunidades terapêuticas e lembrou que o Mecanismo publicou nota técnica recentemente contra o uso de comunidades terapêuticas para lidar com adolescentes em conflito com a lei.
Uma das parlamentares proponentes da sessão, a deputada Erika Kokay citou dados divulgados pela imprensa segundo os quais, em 2016, ainda havia 159 manicômios no País. Ela acrescentou que, em 2018, uma inspeção em várias instituições constatou violações de direitos.
“Nós vimos estruturas inadequadas, uso excessivo de contenções físicas, pessoas submetidas a castigos, relatos de trabalhos forçados, denúncias de estupros, entre outros graves atentados aos direitos humanos”, disse. Kokay também lembrou que, segundo dados do Ministério da Saúde, só 1/3 dos municípios brasileiros tem instituições como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), serviço substitutivo à lógica manicomial.
Em mensagem encaminhada ao Plenário, o presidente da Câmara, Arthur Lira, salientou que a crítica ao tratamento nos manicômios e a busca por um modelo que preserve os vínculos sociais são uma tendência não só no Brasil, mas em todo o mundo.
5ª Conferência Nacional de Saúde Mental (5ª CNSM)
Os convidados da sessão solene em comemoração ao 18 de maio também ressaltaram a importância da realização da 5ª CNSM, organizada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), marcada de 8 a 11 de novembro de 2022.
O tema será “A Política de Saúde Mental como Direito: Pela defesa do cuidado em liberdade, rumo a avanços e garantia dos serviços da atenção psicossocial no SUS”. O eixo principal da Conferência será “Fortalecer e garantir Políticas Públicas: o SUS, o cuidado de saúde mental em liberdade e o respeito aos Direitos Humanos”, que será dividido em quatro subeixos, sendo: Cuidado em Liberdade como Garantia de Direito à Cidadania; Gestão, financiamento, formação e participação social na garantia de serviços de saúde mental; Política de saúde mental e os princípios do SUS: Universalidade, Integralidade e Equidade; Impactos na saúde mental da população e os desafios para o cuidado psicossocial durante e pós-pandemia.
Assista a transmissão da sessão solene
Fotos: Elaine Menke/Câmara dos Deputados
Com informações da Agência Câmara de Notícias