O termo interseccionalidade faz referência aos diversos atravessamentos e demarcadores identitários que as pessoas possuem numa sociedade. Para quem tem deficiência, além dos corpos subjugados pelo estigma do capacitismo, há também outras opressões que os atravessam. A live do Conselho Nacional de Saúde (CNS), realizada nesta quinta (2/09), debateu desafios que mulheres, negros e negras e outros segmentos com deficiência vivem na sociedade.
Para Vitória Bernardes, que representa a Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME) no CNS, é necessário combater o capacitismo, mas também outras violências. “O capacitismo resume nossos corpos, invisibilizando e negando que nossos corpos também são atravessados por questões como raça, gênero, classe e outras identidades”, disse a conselheira, lembrando que em 21 de setembro é comemorado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência.
Taiane Marchareth, do Núcleos Estudos sobre Deficiência (UFSC) e Clínica dos Direitos Humanos das Mulheres (USP), é uma mulher cadeirante, negra, periférica da Zona Norte do Rio de Janeiro. Ela resgatou o racismo estrutural em sua análise. “A população escravizada não teve o direito de sentir. Seus filhos e familiares eram torturados e mortos. A pessoa tinha que seguir em frente e anular sua dor. Após tantos anos, isso ainda impacta na nossa sociedade. Com a deficiência, é a mesma história. As pessoas tiveram a sua humanidade negada ao longo da história”, explica.
Segundo ela, quanto mais vulnerabilizadas uma pessoa é numa sociedade repleta de preconceitos, mais dificuldades a pessoa vai ter na vida. “O racismo, o capacitismo e o sexismo acabam provocando um ciclo de opressões que nos adoece e nos humilha”, lamentou.
Fernanda Vicari, assistente social que atua no Projeto Rumo Norte, instituição de Porto Alegre (RS) que acolhe pessoas com deficiência, é também uma mulher negra com deficiência. Beneficiária da Lei de Cotas para pessoas com deficiência, ela reflete. “É uma lei que se faz necessária diante da dificuldade de inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Mas uma empresa ser obrigada a nos contratar já é drástico porque ninguém quer nos contratar. Isso demonstra o quanto a gente ainda tem de avanços a construir e de retrocessos”, criticou.
A assistente social trouxe à tona a Relação Anual de Informações Sociais 2018, que mostra crescimento no emprego celetista no país. “São 46 milhões de empregos formais, mas somente 486 mil são ocupados por pessoas com deficiência. Mesmo que mulheres sejam maioria entre população com deficiência, o acesso maior é de homens”, afirmou. “A grande maioria das pessoas com deficiência está na linha da pobreza”, disse.
Saiba mais
A série Corpos (R)Existentes tem realizado encontros virtuais semanais, organizados pela Comissão Intersetorial de Atenção à Saúde das Pessoas com Deficiência (Ciaspd,) do CNS. O objetivo é promover reflexões críticas e contribuir no enfrentamento de discriminações em razão da deficiência.
A live também foi apresentada pela conselheira nacional de saúde Priscilla Viégas, que é coordenadora-adjunta da Ciaspd e representa a Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais (Abrato). O debate teve legendagem ao vivo e interpretação em Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Foto de capa: Hugo Barreto/Metrópoles
#PraCegoVer #PraTodosVerem #PraTodoMundoVer: A imagem principal que ilustra a matéria mostra uma mulher negra cadeirante, de costas, entrando em um elevador.
Ascom CNS