Representações do Butantan, da Anvisa, do Conasems e do CNS defenderam a vacinação no Brasil, e se posicionaram contra o negacionismo, a negligência estatal e a falta de recursos
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) reuniu nomes importantes do governo, da ciência e da sociedade para defender a vacinação universal contra a Covid-19 no Brasil. “Abraçar a vacina é amar: a vida, a ciência e o SUS”, foi o nome do debate promovido pelo CNS no Fórum Social Mundial 2021, na última sexta (29/01), espaço de articulação internacional que busca igualdade de direitos para toda a humanidade.
Mais investimentos para a ciência
Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa clínica do Centro de Ensaios Clínicos e Farmacovigilância do Instituto Butantan, lembrou que, de 2005 até hoje, o mundo passou por seis momentos graves de doenças infecciosas, em especial a pandemia de H1N1, em 2009, e a de Covid-19. Além disso, segundo ele, o “horror” do surto de ebola na África, em 2014, foi responsável por alertar a comunidade científica para a necessidade de melhoramento de tecnologias para lidar com crises na saúde a nível global.
Ricardo explicou que é preciso de investimento perene na ciência, pois a evolução das tecnologias é a longo prazo. “Nós vemos com preocupação como a ciência tem sido enfraquecida. O primeiro item a ser cortado das rubricas de orçamento. Parece não ser relevante. É a ciência que dá a resposta para a sociedade nesses momentos. A ciência é um motor poderoso para a economia e para a humanidade. O resultado é para a população. A vacinação é um ato coletivo. Não se importem com disputas passageiras, se importem em proteger a sociedade”, finalizou.
Para Eri de Medeiros, representante do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conasems), “a vacina é uma conquista da humanidade, dos nossos pesquisadores. É um bem maior que deve ser protegido, sem preocupação política e partidária”, disse, reafirmando a fala de Ricardo. Ele lembrou que o Programa Nacional de Imunização é uma experiência de mais de 50 anos. “O SUS tem 38 mil salas de vacina, mais de 47 mil unidades de saúde para vacinação em massa. Nossa rede é exemplar. O governo precisa dar condições para recebermos a vacina”.
Vacina com eficácia e credibilidade
Nesse processo de implementação da vacina, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi fundamental. É o que explica Varley Dias Sousa, assessor especial da Segunda Diretoria da Anvisa. “a Anvisa está presente em tudo que é relacionado à vacina. A regulação é uma ciência, ela permite que produtos cheguem à população com credibilidade. As avaliações de outras agências reguladoras no mundo sobre a vacina são consideradas, somos membros de fóruns internacionais e troca de experiências para chegarmos ao resultado”, explicou.
Equidade e Vacinação
Vanja dos Santos, representante da Mesa Diretora do CNS responsável pela mediação do debate, trouxe à tona o “colapso no SUS” devido à pandemia. “Já passamos de 220 mil mortos pela Covid-19 e esse colapso pode aumentar ainda mais se não tivermos vacina para todos”. Ela lembrou que as populações negras e indígenas são as mais afetadas nesse processo.
Altamira Simões, conselheira nacional de Saúde representante da Rede Lai Lai Apejo, destacou que populações negras e indígenas são as que mais vivenciam de forma “agressiva e violenta” os processos de adoecimento e óbitos causados pela Covid. “Essa não é a única epidemia que somos vítimas. Somos vítimas da fome, da falta de acesso à saneamento, da falta de acesso à emprego e renda. Para a população negra, a vacina não é suficiente para garantir a nossa vida. O governo não está comprometido em garantir a vida da população. O governo segue desqualificando o trabalho dos cientistas e dos movimentos sociais. Precisamos convencer que o Brasil é referencia em imunização”, criticou.
A população indígena no Brasil, que já vive contextos graves de violência e negligência dos governos ao longo dos anos, tem vivido um contexto ainda mais preocupante no período mais recente. É o que explica Cida Potiguara, parteira, enfermeira e representante do Movimento de Mulheres Indígenas da Paraíba. “A população indígena tem histórico de extermínio relacionado a negligência do Estado”.
Ela foi incisiva. “Estamos lutando por nossos direitos para índios em aldeia ou em áreas urbanas. Nosso povo não pode mais uma vez ser dizimado por epidemias. Vamos lutar até o fim. Cada dose [de vacina contra Covid-19] que a gente faz em um idoso, em um jovem indígena, a gente vê a satisfação e a gratidão. Se temos etnias vivas, é graças às vacinas”, finalizou. O encontro contou com a declamação dos poemas “Paradoxos da pandemia” e “Plantemos”, de Mauricio Witczak, que abriu e encerrou o encontro do CNS.
Ascom CNS