Projeto Barriguda (RN), com pré-natal para quilombolas, será homenageado pelo CNS
A comunidade quilombola Capoeiras está situada a 63 km de Natal (RN). Lá vivem 300 famílias que têm dificuldade de acesso aos serviços públicos de saúde. Muitas mulheres e bebês vinham a óbito pela ausência de pré-natal. O Projeto Barriguda zerou o número de mortes na gestação. A experiência receberá menção honrosa do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) durante a 2ª Conferência Nacional de Saúde das Mulheres (2ª CNSMu), que acontecerá de 17 a 20 de agosto, em Brasília.
A iniciativa nasceu em 2015, após Maria das Graças Barbosa, moradora da comunidade, conseguir assento como conselheira municipal de saúde do município de Macaíba (RN). “Sempre busquei ajuda com o conselho e com a prefeitura. Antes do projeto, as mulheres não tinham cuidados pré-natais”. Ela relata que as mortes se davam principalmente por conta da eclâmpsia, que são convulsões na hora do parto. O problema pode ser evitado se houver acompanhamento durante a gravidez.
O Projeto Barriguda foi gestado no Instituto Santos Dumont, uma entidade vinculada ao Ministério da Educação (MEC), com sede no município de Macaíba, que desenvolve ações de Educação em Saúde. Essa barriga foi crescendo ainda mais e se tornou uma disciplina oferecida aos cursos de saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Hoje, 45 mulheres estão sendo atendidas regularmente.
Confiança e afeto
Reginaldo Freitas Jr., coordenador do projeto, explica que todas as ações foram desenvolvidas de forma compartilhada, com escuta às demandas das lideranças. “Elas tinham a necessidade de criarmos afeto, desenvolvermos vínculos. Muitas delas não falavam, não permitiam exames de toque. Não chegamos com a ideia pronta. Nós fizemos reuniões, trabalhos lúdicos com arte-terapia, escutamos quais serviços elas desejavam ter”, disse.
Semanalmente, uma equipe vai à comunidade para realizar o acolhimento. Além da equipe médica, há também a visita de fisioterapeuta, psicólogo, infectologista e estudantes da área da saúde. “Nossa relação é horizontal. Nós aprendemos muito com a comunidade. Elas também nos ensinam”. A socióloga e assessora técnica do CNS Eline Jonas foi a responsável pela visita. Para ela, “a integração e relação de confiança entre as usuárias e a equipe do projeto” chama a atenção. “O projeto conseguiu dar atenção às mulheres negras, quilombolas, que possuem alto índice de mortalidade e em geral são excluídas”, concluiu.
Ascom CNS
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