Em Paraisópolis, São Paulo (SP), e em Brasília (DF), projetos protagonizados pela população e pesquisadores têm obtido resultados importantes para contenção da pandemia
O Comitê para Acompanhamento da Covid-19, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), reuniu-se nesta quinta (10/09), em encontro online com líder comunitário, pesquisador e membros das comissões intersetoriais do CNS. O encontro trouxe para a pauta a integração da Vigilância em Saúde e da Atenção Básica em experiências populares de vigilância que contribuem para atenuar sofrimentos em contexto de crise sanitária.
Um dos exemplos é o que vem acontecendo em Paraisópolis, onde uma série de projetos comunitários vêm sendo eficazes para a população de aproximadamente 100 mil pessoas. Gilson Rodrigues, coordenador nacional do G10 das Favelas e líder comunitário, explicou parte das ações.
“Se o governo não fez nada aqui, precisávamos fazer alguma coisa. Ficar em casa não é possível em favelas com famílias tão numerosas”, explicou. Segundo ele, o Samu não subia o morro, então a própria comunidade se mobilizou para conseguir doações com parceiros e contratou três ambulâncias 24 horas com equipe médica para este período. Desde que a pandemia começou, foram mais de 4500 chamados. Um grupo de costureiras também produziu 270 mil máscaras e distribuiu aos moradores.
Outra ação importante foi o curso realizado em parceria com o Corpo de Bombeiros de SP. 240 brigadistas da própria comunidade foram formados para atender a população. Uma campanha para doação de alimentos conseguiu arrecadar cerca de 60 mil cestas básicas e também oferecer marmitas a quem mais precisa. “Em uma pandemia, é fundamental se alimentar bem para mantermos a imunidade da nossa população alta”, disse o líder comunitário. Só em agosto, foram 10 mil refeições prontas entregues.
Gilson também explicou que a própria comunidade conseguiu transformar as escolas, que estavam fechadas, em “casas de acolhimento”, pois em residências muito pequenas, “é difícil isolar as pessoas que estão positivas para Covid-19”. Para o próximo ano, 12 iniciativas que envolvem trabalho e renda já estão sendo pensadas. “Há uma segunda crise que está por vir. Estamos construindo oportunidades. Precisamos mostrar para as comunidades que podemos nos organizar e ser agentes de transformação”.
Construindo pontes entre academia, gestão e população
Wagner Martins, coordenador de integração estratégica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Brasília, apresentou a Plataforma de Inteligência Cooperativa com Atenção Primária à Saúde para enfrentamento da Covid-19 (Picaps), parceria entre Fiocruz, Universidade de Brasília (UnB) e Secretarias de Saúde e de Ciência, Tecnologia e Inovação do Distrito Federal. O espaço online tem formado profissionais da saúde que estão na base da Atenção Primária em diferentes comunidades.
“É uma plataforma de interação sociotécnica com dados digitais em saúde. É um plano conjunto de ações onde várias organizações participam do processo”. Segundo ele, comitês populares também definem as intervenções sociais, construindo conhecimento diante de uma doença que ainda precisa ser estudada. “Estamos capacitando trabalhadores em tempo integral. Há também um grupo de epidemiologistas envolvidos”. O espaço também funciona como um repositório com evidências, alertando diferentes agentes da sociedade civil, da gestão pública e da academia sobre quais medidas têm êxito e o que não tem diante da pandemia.
Sueli Barrios, conselheira nacional de Saúde representante da Associação Brasileira Rede Unida, mediou o debate. Para ela “a Atenção Básica é a alma do SUS”. E completou. “Isso mostra a importância da integração entre entidades da sociedade civil, das universidade, das instituições de pesquisa com a população para que o SUS dê conta das necessidades das pessoas. Organizando esse processo no território, a vida acontece. Precisamos fortalecer iniciativas como essas”.
Foto: Estadão
Ascom CNS